é um amigo meu. Rasta, vive em Portugal há 14 anos. Feliz, garante-me que nunca trabalhou um dia desde que cá está.
Diz que tem uma família influente em Angola e que quando está apertado com guito aparece sempre alguém que lhe paga as contas. Verdade ou não, não me interessa. O que me interessa é que ele consegue viver, e não sobreviver, feliz, repito, com muito pouco guito.
E eu, pateta assalariado, (nunca me refiz do utópico amor e uma cabana), olho para o seu estilo de vida com uma certa inveja, inveja esta que se revela completamente antagónica com o meu dia-a-dia mas que me vai alimentando muitas horas de sonho sobre como tudo poderia ser...
No outro lado da barricada encontra-se um senhor de 74 anos que trabalha numa casa de fados ao pé de mim. Está à porta do restaurante e o trabalho dele é sacar estrangeiros para entrarem na casa. Trabalha todos os dias das 8 (não sei bem porquê, mas a verdade é que me cruzo com ele todos os dias à saída de casa) às 23.00. Ganha 15 euros por dia e tem de tomar conta de 3 netos depois do seu único filho ter fugido nem ele sabe para onde. Fica em pé à porta porque o chefe não o quer ver sentado e diz-me que tem de ser. Todos temos de trabalhar e o trabalho dignifica. Com 74 anos ainda consigo fazer o que qualquer miúdo de vinte faz. Esta foi a nossa herança salazarista e de 30 anos de democracia sem dinheiro. Convencemos as pessoas de que a única safa é o trabalho. Que raio de futuro preparamos nós. Netos em casa negligenciados e velhos de sentinela 17 horas por dia.
Se conseguimos enganar as gerações que nos antecederam a fazê-lo, de certeza que as vindouras (esperemo eu) irão mandar este modelo à merda. O problema é que a negligência trás revolta, vingança e tudo o resto. E um modelo à merda e ficamos atolados na merda em que o modelo nos deixou...
Sonho também em promover um encontro entre estes dois representantes de classes. Gostava de convencer o velho a deixar de trabalhar. Gostava que ele percebesse que a melhor forma de criarmos os outros não é através da negligência (na cabeça dele, forçada).
Dom Penumbra Life Style. Fazemos visitas a casa, vamos a casamentos e a baptizados...
Look!
"What?" said Alice, "it's only a purple frog taking his temperature with a golden revolver".
15 março 2008
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2 comentários:
Extenda um bocado mais a sua indignação. No mundo existem países onde as pessoas podem trabalhar com dignidade (dezassete horas por dia) e assim sustentar os seus netos, e existem países onde as pessoas não têm perspectiva alguma, cujos filhos morrem de subnutrição porque não têm o que comer. É a vida! Uns oprimem e outros são oprimidos! Uns são imperialistas, outros são colonizados! Uns são de primeiro mundo, outros são de terceiro. É claro que estes últimos são os maus da fita (atrasados mentais, incultos, bárbaros, incivilizados)!. Hello, Alice! Welcome to the real world!
P.S. não confunda trás (de atrás da porta) com traz (traz-me a porta).
P.S.2 - E não me venha dizer que isso tem a ver com "isses".
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